Avaliação do Usuário

Estrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativa
 

*Luis Eduardo Morimatsu Lourenço

A série de pequenos artigos, dividida em três partes, pretende expor - de forma breve e não exaustiva - algumas reflexões do húngaro Peter Szondi, reconhecido Filólogo, Esteta e Professor de Literatura Comparada da Universidade Livre de Berlim. Sua celebrada obra “A Teoria do Drama Moderno”, escrita em 1956, é presença certa entre os cânones da Teoria Teatral e Literária, constituindo-se como marco no desenvolvimento da crítica alemã historicamente orientada do pós-segunda grande guerra. As seguintes palavras, consequentemente, orbitarão justamente em torno desta obra.

3. A Crise do drama clássico moderno

Ao final do século XIX o drama clássico moderno entra em crise. Szondi dedicar-se-á ao estudo de cinco autores que, sob sua perspectiva, representam de maneira típica tal ocorrência: Ibsen, Tchékhov, Strindberg, Marterlinck e Hauptmann. O presente artigo dedicar-se-á tão somente às considerações de Szondi em relação a Ibsen e Tchékhov.

Acreditava Szondi que, já em Ibsen, a técnica analítica que caracterizaria de forma inequívoca suas peças – e pela qual ficou conhecido - manifestaria a crise histórica do próprio Drama. Se o âmbito originário do drama moderno clássico era o plano da significação em comum, uma intersubjetividade originária compartilhada, a marca distintiva das peças de Ibsen, por sua vez, seria justamente a presença de sujeitos que, mesmo possuindo um passado compartilhado, restam por se tornar perfeitamente estranhos uns aos outros. O presente é evocado apenas em função de tornar presente o passado: o presente, portanto, já não tem o caráter absoluto do drama moderno. O tema central é o próprio passado e é ele que confere a unidade subjacente à trama que se desenrola.

Em Ibsen, ademais, este passado é submetido à reflexão de consciências que examinam aquilo que já não é a partir de suas interioridades radicais e de perspectivas muito próprias.  Embora os fatos tenham origem intersubjetivas, a significação do todo é fragmentada e pertence a cada indivíduo isolado, absoluto em sua interioridade. Muito do que Ibsen propõe está mais próximo do romance burguês – na tragicidade imanente de uma vida sem sentido, por exemplo – do que da forma dramática original. Assim resume Szondi: “nas épocas hostis ao drama, o dramaturgo torna-se o assassino de suas próprias criaturas”

Compreenda-se drama enquanto obra destinada à encenação teatral

Os dramas de Tchékhov, por sua vez, teriam como sua marca distintiva “a renúncia” que “ao presente é a vida na lembrança e na utopia” e a renúncia que “ao encontro é a solidão”. Assim como em Ibsen, o presente já não tem significação em si mesmo, mas tão somente em relação a um passado evocado em nostalgia ou a um futuro invocado como sonho. Perde-se a centralidade do presente, característica do drama moderno clássico: mira-se tão somente no que já não é ou do que ainda não é (e que provavelmente nunca virá a ser). O tédio da vida diária, a vida sem sentido, o desespero, a absoluta tristeza: a renúncia ao presente, à vida ela mesma, parece ser o destino incontornável dos personagens de Tchékhov.

artigo prof

 

Referência
SZONDI, Peter. Teoria do Drama moderno. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

*Luis Eduardo Morimatsu Lourenço, Doutorando em Filosofia (CAPES) pela PUC-SP, Mestre em Filosofia e Especialista em Direito Constitucional pela PUC-SP e Professor da Escola de Gestão e Contas Públicas Conselheiro Eurípedes Sales do Tribunal de Contas do Município de São Paulo.


Os artigos aqui publicados não refletem a opinião da Escola de Contas do TCMSP e são de inteira responsabilidade dos seus autores.